sexta-feira, 3 de abril de 2015

pedaços grandes de vida






havia tanto para contar, mas as boas memórias, que são tantas, atropelam-se quase em gritos histéricos na minha cabeça.
começaria pelo dia completamente inusitado em que entraste na minha vida, pelo impulso tremendo com que te agarrei e disse "és minha!". Quanto ao resto, logo se veria, porque a paixão quando irrompe cá dentro, é livre, desgarrada.
e continuaria. Continuaria pelos episódios líricos de um sofá transformado em bocados de esponja espalhados pelo chão da sala e tu virada para a parede, convicta de que estarias perfeitamente escondida dos meus olhos incrédulos, perante tal cenário caótico.
continuaria a contar a tua história, lembrando as longas tardes de chuva em que dormias a meu lado, ou aos meus pés ou então os serões demorados de jogatanas, festas e cantorias.
estiveste lá sempre.
inclusivé estiveste sempre comigo, quando deixaste de o estar, durante os quarenta e cinco dias em que foste uma fugitiva sem precedentes e por um feliz acaso do destino (porque lá está, a vida também nos prega boas partidas), voltas em corpo presente aos meus dias e eu abraço-me a ti, decidida a jamais te tirar a vista de cima.
eu estive sempre contigo, na dura luta que foi manter-te comigo, numa vizinhança de baixo calibre.
eu estive sempre contigo, nas vezes em que eras tu que me passeavas em flecha, pelas ruas pujantes da tua infância.
e continuaria com tanta coisa por contar.
a nossa história terminou hoje,nesta maldita madrugada, em que os teus 14 anos não nos deixaram continuar nem por mais um dia, esta nossa vida conjunta.
voltaria atrás por tudo isto, por todas estas memórias incálculaveis que me deixas e que se atropelam dentro de mim, neste preciso momento em que as lágrimas me atropelam a dor abismal de te ter perdido.
amo-te para sempre, minha crazy Mary (tal como diz a música, graças à qual encontrei o teu nome, num espaço e num tempo que já não existem)       


2 comentários:

  1. Lamento muito, Cláudia. Fiquem as boas e eternas lembranças. Beijinho grande Célia Couto

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada Célia, é mesmo isso, as boas recordações são eternas. Um beijo**

      Eliminar