domingo, 29 de novembro de 2015
good company
um destes dias em conversa com uma amiga, esta falava-me sobre a sensível questão que é sabermo-nos proteger, dizendo que afastava obrigatoriamente aquilo que lhe fazia mal.
mas a sensibilidade e ambiguidade da questão é de tal forma imensa, que por vezes as coisas não serão assim tão lineares.
porque há coisas e pessoas que fazem de tal forma parte das nossas vidas, seja por laços familiares, seja por necessidade material, seja por dependência emocional que, apesar de ser visível o grau de incómodo que nos trazem, cortar radicalmente com isto poderia tornar-se quiçá, ainda mais prejudicial.
não sei.
o que eu sei é que, a forma mais inteligente de nos sabermos proteger, não será obrigatoriamente o afastarmo-nos de tudo aquilo/quem nos prejudica, mas rodearmo-nos todos os dias daquilo que nos faz tremendamente bem.
pode ser ler um livro. pode ser escrever um livro. pode ser telefonar a alguém amigo. pode ser ir ver as montras. pode ser pôr a música alta e dançar no meio da sala, como se fôssemos rebeldes sem causa numa louca festa revivalista. pode ser ir passear o cão. pode ser dormir com os gatos em cima, de forma a não te poderes mexer. pode ser comer sushi. ou uma feijoada. pode ser acabar o dia no sofá a ver um grande filme e adormecer até babar.
pode ser qualquer coisa, desde que te alimente o espírito.
e simultaneamente (last, but not the least), esta boa guarnição espiritual é grande auxiliadora das causas justas:
dá-nos o arcaboiço necessário e indispensável para saber lidar com os "atropelos" dados por aquilo e quem não nos fará tão bem assim.
fácil não é,
mas é de pasmar o grau de dificuldade para o qual a determinação humana está formatada para conseguir superar.
e muitas vezes consegue-se, sabem...?
sábado, 14 de novembro de 2015
o cancro do mundo
era uma sexta-feira normal, ou provavelmente mais auspiciosa do que tantas outras.
era uma noite.
véspera de fim de semana.
era sair. jantar fora. beber um copo. ir ao estádio ver o jogo.
ir a um concerto.
tanta coisa boa para fazer, porque afinal, era sexta-feira.
era.
fim.
sábado, 7 de novembro de 2015
quantos de nós somos números primos
tenho uma inadvertida tendência para histórias que falam de assimetrias, desencontros, desamores, finais pouco esperados, socos no estômago, etc. etc.
confesso que um livro ou filme que encerra com um "e foram todos felizes para sempre", não se perpetua na minha memória por mais de três minutos, o que também não significa que eu disponho de uma veia sádica que me domina ao ponto de querer ver toda a gente infeliz.
nada disso.
trata-se apenas de um gosto pessoal, um tanto atípico talvez, mas a questão é que este tipo de enredos menos felizes, sejam eles puramente ficcionais ou baseados em factos verídicos, podem-me marcar para o resto da vida.
por isso é que quando me falam em grandes filmes, só me vem à cabeça algo que entrou e nunca mais saiu, tal como o 21 Gramas (Sean Penn), Monstro (Charlize Theron), Laranja Mecânica, A Vida é Bela, são apenas alguns exemplos.
e relativamente a livros o cenário não é diferente.
este ano li "A Solidão dos Números Primos"e apesar de não se tratar de uma obra prima a nível literário, não lhe vou esquecer o conteúdo, com toda a certeza.
citando a sinopse do livro, um número primo é inerentemente solitário, só pode ser dividido por si próprio ou por um, nunca se adaptando aos outros números. Não é de aritmética que a história trata, mas das vidas singulares de duas pessoas, que a dada altura se interceptam e acabam por reconhecer muito de si, no outro.
e no entanto, aquilo que poderia ser tão fácil e linear aos olhos das outras pessoas ditas normais, é absolutamente complexo para estas duas, igualmente ímpares.
é que por vezes lemos e vemos coisas que não cumprem apenas a função lúdica de nos entreter, mas que subtilmente nos fazem pensar e compreender outras histórias que acontecem no filme do nosso dia a dia.
e quando assim acontece, é não pensar em demasia no final, seja ele feliz ou não.
hoje vi o filme, mas escusado será dizer que o livro é bem melhor.
sexta-feira, 6 de novembro de 2015
tenho pena
este Portugal é lindo, mas quem o vai "dominando" fá-lo mediante desígnios suspeitos, injustos e dúbios para os outros que vão "sendo dominados".
e cada dia é uma nova. Por exemplo, e trazendo à tona uma recente, temos a 'bora lá ser meiguinho para o Ricardo Salgado, tadinho, vamos perdoar-lhe milhões e atenuar-lhe a pena, já que o que ele apenas fez, foi tirar o trabalho de uma vida em poupanças, a muitos que deixaram de perceber o sentido de viver com dignidade.
Infelizmente, o bombardeio deste tipo notícias desafiadoras à manutenção de uma conduta cívica e moral, já é uma constante demorada no nosso panorama nacional.
tenho pena. Muita pena, enquanto cidadã com brio no seu país.
e o pior é que, equacionando a hipótese deste tipo de cenários sempre ter existido (talvez em número mais reduzido), mas que muito provavelmente se desenrolava de forma súbtil, qual aragem ténue , agora é tudo feito em cima da ribalta escancarada dos media, com direito a holofotes, altifalantes e amplificadores de som topo de gama.
Ora, este aparato é bom para o povo estar a par de tudo, mas é muito mau para o povo se sentir ainda mais injustiçado.
tenho pena.
pena que nos mostrem a nós, zé povinho, que se não fossemos zé, nem povinho, talvez nos safássemos.
acredito que haja e tenha havido muito boa gente com merecido crédito e valor reconhecido, a palmilhar o desassossego da luta pela vida, através do seu próprio trabalho, engenho e mérito.
mas caramba, não é preciso arrasar a boa vontade, o empenho, a inteligência e a capacidade de quem luta luta luta e tem a pouca sorte de o não conseguir assim, única e exclusivamente através da sua luta, do seu trabalho.
e assim é fácil atingir uma coisa chamada desespero.
Acho que o Ricardo Salgado não saberá o que é isso.
que se lixe o ser-se honesto e pródigo em civismo.
tenho uma filha, a quem tenho vindo a incutir de uma forma tão leve quanto uma criança merece, o espírito de integridade, para que se sirva disso como algo natural e espontâneo da sua pessoa, pela vida fora, porque é bom para ela e assim o será para os outros.
E depois o palco diário da vida é outro, descaracterizado.
tenho pena.
e cada dia é uma nova. Por exemplo, e trazendo à tona uma recente, temos a 'bora lá ser meiguinho para o Ricardo Salgado, tadinho, vamos perdoar-lhe milhões e atenuar-lhe a pena, já que o que ele apenas fez, foi tirar o trabalho de uma vida em poupanças, a muitos que deixaram de perceber o sentido de viver com dignidade.
Infelizmente, o bombardeio deste tipo notícias desafiadoras à manutenção de uma conduta cívica e moral, já é uma constante demorada no nosso panorama nacional.
tenho pena. Muita pena, enquanto cidadã com brio no seu país.
e o pior é que, equacionando a hipótese deste tipo de cenários sempre ter existido (talvez em número mais reduzido), mas que muito provavelmente se desenrolava de forma súbtil, qual aragem ténue , agora é tudo feito em cima da ribalta escancarada dos media, com direito a holofotes, altifalantes e amplificadores de som topo de gama.
Ora, este aparato é bom para o povo estar a par de tudo, mas é muito mau para o povo se sentir ainda mais injustiçado.
tenho pena.
pena que nos mostrem a nós, zé povinho, que se não fossemos zé, nem povinho, talvez nos safássemos.
acredito que haja e tenha havido muito boa gente com merecido crédito e valor reconhecido, a palmilhar o desassossego da luta pela vida, através do seu próprio trabalho, engenho e mérito.
mas caramba, não é preciso arrasar a boa vontade, o empenho, a inteligência e a capacidade de quem luta luta luta e tem a pouca sorte de o não conseguir assim, única e exclusivamente através da sua luta, do seu trabalho.
e assim é fácil atingir uma coisa chamada desespero.
Acho que o Ricardo Salgado não saberá o que é isso.
tenho uma filha, a quem tenho vindo a incutir de uma forma tão leve quanto uma criança merece, o espírito de integridade, para que se sirva disso como algo natural e espontâneo da sua pessoa, pela vida fora, porque é bom para ela e assim o será para os outros.
E depois o palco diário da vida é outro, descaracterizado.
tenho pena.
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
separação do trigo e do joio com aniversário à mistura
a última semana foi aquela que albergou o penúltimo dia de Outubro, vulgo, o dia do meu aniversário.
como já é tradição, na véspera mantive a celebração feminina da praxe e de facto, posso dizer que para além da tradição ainda ser o que era, está ainda melhor.
não sei se é da idade estar mais apurada, das prioridades que se (re)definem, do sentido de humor mais rebuscado, da serenidade que se instala imperativamente, ou...provavelmente será por tudo isto ao mesmo tempo e outros ingredientes mais.
seja como for, o factor principal está lá sempre, que é um mais do que razoável nível de confiança, respeito e amizade.
este ano corrente tem sido difícil, mas simultaneamente tem sido pródigo em mostrar-me aquilo e quem realmente interessa na minha vida, porque as amizades não se medem pelos cálices de vinho que temos na mão, nem pelas conversas anedóticas que se contam entre garfadas partilhadas à mesa. Também os tive, desses tais amigos que só o eram pelo bom da coisa. Não estou interessada em tê-los mais. Tal como não estou interessada em ser bombardeada pelo que me faz mal. Pelo que me faz pesar culpas que não são minhas. Pelo que me faz descer, em vez de subir.
e não sei se será particularmente por ter acabado de fazer uma idade com um 9 , que é o meu número companheiro de vida, mas o que é certo é que cheguei definitivamente a um momento de ponderações que implicam ascensão, e não declínio.
uma dessas resoluções trata-se do sábio manuseamento do não. Sempre tive sérias dificuldades em dizê-lo, agi muitas vezes em prol de um sim que me prejudicava, só para não ferir susceptibilidades.
mas o problema é que as susceptibilidades ferem-se na mesma. E a maior ferida é a de quem quebra e diz sim, quando deveria dizer não.
o maior problema da vida é mergulhar de cabeça e começares a ver que a água que cobre o fundo não será suficiente para te amparar a queda. Nesses milésimos de segundo que te restam até bateres lá em baixo e veres o fim, só tens três alternativas:
*fechas os olhos e deixas-te ir
*visualizas em flashes a tua memory lane
*convertes o teu corpo numa série de acrobacias comandadas pelo teu engenho e cabeça, de forma a escapares-te daquele fim iminente
e eu quero fazer da terceira hipótese, sempre a única opção.
portanto, esta conversa toda vem a propósito das amizades, que foram por si só, um ponto alto do meu último ano.
reunir pessoas à mesa, sem que haja um rastilho concreto de amizade que as una, pouco significado tem para mim.
e posso dizer que no meu mergulho de cabeça, estas pessoas que se sentaram à minha mesa de aniversário, têm sido autênticas acrobacias de salvação da minha pessoa. É que às vezes também precisamos dos outros, para conseguirmos chegar até nós.
um grande brinde à amizade e a tudo aquilo que verdadeiramente faz sentido...!
como já é tradição, na véspera mantive a celebração feminina da praxe e de facto, posso dizer que para além da tradição ainda ser o que era, está ainda melhor.
não sei se é da idade estar mais apurada, das prioridades que se (re)definem, do sentido de humor mais rebuscado, da serenidade que se instala imperativamente, ou...provavelmente será por tudo isto ao mesmo tempo e outros ingredientes mais.
seja como for, o factor principal está lá sempre, que é um mais do que razoável nível de confiança, respeito e amizade.
este ano corrente tem sido difícil, mas simultaneamente tem sido pródigo em mostrar-me aquilo e quem realmente interessa na minha vida, porque as amizades não se medem pelos cálices de vinho que temos na mão, nem pelas conversas anedóticas que se contam entre garfadas partilhadas à mesa. Também os tive, desses tais amigos que só o eram pelo bom da coisa. Não estou interessada em tê-los mais. Tal como não estou interessada em ser bombardeada pelo que me faz mal. Pelo que me faz pesar culpas que não são minhas. Pelo que me faz descer, em vez de subir.
e não sei se será particularmente por ter acabado de fazer uma idade com um 9 , que é o meu número companheiro de vida, mas o que é certo é que cheguei definitivamente a um momento de ponderações que implicam ascensão, e não declínio.
uma dessas resoluções trata-se do sábio manuseamento do não. Sempre tive sérias dificuldades em dizê-lo, agi muitas vezes em prol de um sim que me prejudicava, só para não ferir susceptibilidades.
mas o problema é que as susceptibilidades ferem-se na mesma. E a maior ferida é a de quem quebra e diz sim, quando deveria dizer não.
o maior problema da vida é mergulhar de cabeça e começares a ver que a água que cobre o fundo não será suficiente para te amparar a queda. Nesses milésimos de segundo que te restam até bateres lá em baixo e veres o fim, só tens três alternativas:
*fechas os olhos e deixas-te ir
*visualizas em flashes a tua memory lane
*convertes o teu corpo numa série de acrobacias comandadas pelo teu engenho e cabeça, de forma a escapares-te daquele fim iminente
e eu quero fazer da terceira hipótese, sempre a única opção.
portanto, esta conversa toda vem a propósito das amizades, que foram por si só, um ponto alto do meu último ano.
reunir pessoas à mesa, sem que haja um rastilho concreto de amizade que as una, pouco significado tem para mim.
e posso dizer que no meu mergulho de cabeça, estas pessoas que se sentaram à minha mesa de aniversário, têm sido autênticas acrobacias de salvação da minha pessoa. É que às vezes também precisamos dos outros, para conseguirmos chegar até nós.
um grande brinde à amizade e a tudo aquilo que verdadeiramente faz sentido...!
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