Sou devoradora de livros,tenho paixão pelas palavras, não as ditas ( das quais normalmente se diz "palavras,leva-as o vento"), mas aquelas que deixam o seu cunho no papel e que, uma vez lidas, ecoam "cá dentro". Quiçá, para todo o sempre. Sorvo sôfregamente essas palavras escritas, tal como aniquilo por completo as linhas vazias de cadernos em branco, onde aí eu faço o meu próprio existir de palavras. Também tenho por hábito apontar todas as frases, pensamentos ou citações que, de alguma forma, lá está, ecoam "cá dentro"... Oscar Wilde é para mim, muito provavelmente, o grau máximo, no que a citações diz respeito. E digamos que também teve o seu quinhão de extrema importância há uns tempos atrás, na minha vida...mas isso já são outras histórias, que pertencem ao rol das minhas histórias de cariz invulgar, mas que fazem parte de um foro mais íntimo e como tal, reservo-as para mim e obviamente,para quem desses momentos fez parte. Mas basicamente, um dos lemas, chamemos-lhe assim, que ecoam cá dentro e que foi eternizado pelo próprio Wilde, é o seguinte: " O mais importante da vida não se procura. Encontra-se. "
Proponho-vos um exercício mental,uma espécie de "flashback" na vossa existência e depois tirem as vossas conclusões... as minhas? sem dúvida que tenho uma mão cheia de "imensamente bom" que veio ao meu encontro,inesperadamente, no tempo certo.
Sempre achei que o pilar base de um ser humano,assenta nos seus primordiais primeiros anos,onde tudo existe,se faz e acontece,pela primeira vez. A infância é o nosso molde,enquanto pessoas e ao mesmo tempo,a rampa de lançamento para toda uma vida que nos espera. Nunca este assunto (que sempre foi tão importante para mim) me "tocou" tanto,como agora,que sou mãe e claro,escusado será dizer que "não tenho estofo psicológico" para ver e ouvir casos de infâncias tristes,tais como aqueles em que começam por "Recém-nascido abandonado" e afins. Sou um Ser Humano,que pertence afortunadamente ao rol das infâncias felizes,com pais presentes,com muitas brincadeiras sem grandes artefactos materiais,com desenhos animados inesquecíveis e com um contacto profundo com a Natureza. Teve uma importância abismal para mim ter passado longos momentos dos meus primeiros anos (diga-se,11 anos),na quinta dos meus avós,um paraíso,tal como ainda hoje a relembro,em Ovar. Ali inventava histórias que habitavam no meu imaginário e com toda aquela idílica envolvência,dava-lhes forma e conteúdo; adorava,do alto do meu "palmo e meio",participar das vindimas e ficar toda picada dos mosquitos (o entusiasmo era tanto,que a comichão era irrelevante); adorava saltitar de árvore em árvore e ir apanhando fruta,até sentir o estômago a "pedir socorro"; adorava ir buscar os ovos (tarefa que a minha avó reservava especialmente para mim) ao galinheiro e claro,adorava interagir com os animais. A minha paixão por animais foi bastante impulsionada por esta minha grande experiência e vivência de infância,que foi a quinta dos meus avós. E também posso dizer que foi daqui que veio a minha decisão de deixar de comer carne :quando ao longo do meu crescimento fui descobrindo certos factos,como por exemplo,o facto de nem tudo o que se comia vir da terra ou das árvores e que efectivamente os meus amiguinhos peludos,com os quais inventava histórias no fim de semana anterior,já não estarem ali,nos seus sítios de sempre...creio que foram estes os primeiros sabores amargos da minha infância,que nos ajudam a preparar-mo-nos para uma vida,toda ela agridoce . Mas com todas as suas experiências,descobertas,sabores doces e amargos,a recordação da minha infância é sem dúvida,um "colo" no qual eu me aconchego sempre que preciso ou simplesmente...me apetece; tais como determinados cheiros que têm o fantástico poder de me transportar de forma imediata para estas memórias onde eu tantas vezes "me sento e descanso"...
Facto Muito Importante: ao ler a "Sábado" desta semana,deparei-me com algo que não vou esquecer e passo a citar : "As ressonâncias magnéticas revelam que oferecer coisas ou doar dinheiro,activa o centro de recompensa no cérebro,fazendo aumentar a dopamina,ou seja,fazendo as pessoas mais felizes. Há estudos que indicam uma diminuição de 60% na mortalidade das pessoas que ajudam outras". Maravilhoso,não é? ou seja,está comprovado que ser genuinamente altruísta,para além da grandiosidade do acto,acarreta também "ingredientes" do elixir da longevidade. E lá está,é daquelas coisas em que faço questão de acreditar e,essencialmente, (elixires á parte) ...de praticar.
Para quem me conhece bem,o momento em que anunciei que estava grávida,foi no mínimo de espanto. Isto porque ao longo da minha vida,sempre fui muito renitente relativamente á questão de ser mãe,basicamente assustava-me a ideia de ter uma criaturazinha indefesa totalmente dependente de mim,a precisar da minha atenção constante,do meu apego,da entrega de todo o meu instinto maternal. A questão,lá está,é que eu nunca dei por mim a ter tal instinto,logo tudo o resto relacionado com o assunto seria inviável...e não se pensava mais nisso. Mas aquilo que muitas vezes nos esquecemos,é do quão imprevisível pode ser o futuro: quando pensamos que conduzimos o leme do barco que é a nossa vida,surge a "correnteza" do destino ou seja lá o que fôr,que nos "leva o barco" noutra direcção completamente diferente. Foi assim que aconteceu comigo. E ainda bem. É que não consigo imaginar uma vida,esta minha vida,sem ter passado por esta sensação desmesuradamente boa,de amar tanto este pequenino ser,que tanto de mim depende. E o mais irónico ? "fui feita" para isto...
...já sabia bem o que queria.Agora,mais do que saber aquilo que quero,é ter a certeza daquilo que não quero.Felizmente a própria vida "alimenta-nos" da sensatez necessária para tal reconhecimento.