finalmente começo a ouvir a familiaridade da minha voz e estou convicta que desta vez o raio da gripe vai à vida.
aligeirei inicialmente a dita e fiz mal, deveria tê-la levado mais a sério e proporcionar-lhe de imediato toda aquela panóplia de condicionalismos, vulgo antibióticos, anti-inflamatórios, xaropes e retiro domiciliário, que no seu todo se encarregam de garantir uma estadia reduzida de sua excelência ,nos organismos por si tomados de assalto.
xô daqui para fora.
falando agora de livros, ontem comecei a ler "O meu amante de domingo", da Alexandra Lucas Coelho, cuja escrita me seduziu, logo desde o primeiro texto que li dela.
e nem imaginam o que me tenho rido com a história, com linguagem bastante assertiva e sem papas na língua. Estou a adorar e creio que mais um dia e dou conta do livro.
fiquem com esta passagem, uma das muitas com as quais é fácil encontrar uma identificação pessoal :)
"há uma insolência nos gajos que fazem de conta que não sabem que são giros. Aquele tipo de gajos que olham para baixo enquanto falam porque só fumam tabaco de enrolar, e depois de acenderem o cigarro ficam a cutucar as pedras com a ponta do pé e quando levantam a cabeça olham para o fim do horizonte como se não estivessem bem aqui, ou além houvesse algo que só eles vêem, o que só realça o ângulo agudo do maxilar, a protuberância da maçã de adão, e quando subitamente olham a direito, é com aqueles olhos semicerrados de quem fuma ganzas, e depois levam a mão à cabeça, enfiam os dedos no redemoinho que é a proa deles, e sorriem de esguelha."
quinta-feira, 15 de janeiro de 2015
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
la haine est vouée à ce sort lamentable
há um fio de voz rouca que hoje escreve, mas enquanto houver destreza nos dedos, tudo o que há para dizer, consegue ser dito por palavras escritas.
em tom de desabafo, quero que fique aqui registado a estranha realidade paralela na qual me senti inserida, durante os dias da semana passada. Infelizmente esta sensação ocorre, ciclicamente, quando existe um "abalo", ou a nível circunscrito da vida privada, ou a nível mundial, que foi o caso.
creio que a memória mais primária que tenho de tal sensação de estranheza, foi por altura da guerra do golfo, nos primórdios dos anos 90, em que as imagens televisivas que se transmitiam , davam conta de um mundo aparentemente submerso em noite, em tanques e ataques, tornando o ar quase irrespirável e fazendo-nos questionar se aquele céu que víamos ao sair de casa, poderia ser o mesmo céu que não se deixava ver nas emissões televisivas, encoberto pela guerra.
na semana passada, a acompanhar os acontecimentos trágicos em Paris, revisitei a estranheza dessa sensação .
lembro-me de ter pensado "que raio é isto..? o ano só começou há meia dúzia de dias, e já há tanto de mau para registar?!"
e depois temos as manifestações, a solidariedade, a identificação, os discursos e ainda os bitates, e os disparates. Por que há sempre algo disparatado a dizer, seja face a uma tragédia, seja em relação ao bater de asas de uma borboleta.
para mim, o disparate-mor que se evidenciou, foi o "eles puseram-se a jeito", tristemente proferido por alguém. Eles,os cartoonistas assassinados. Portanto, sempre que alguém se puser a jeito, toma lá balázios. Sim, porque a avaliar pelas páginas diárias do Correio da Manhã, não creio que seja requisito essencial pertencer à al qaeda para se matar.
pela boca morre o peixe.
pelo desenho sarcástico, pelo lápis e pelo papel, mataram-se pessoas. E ainda as outras, sem nada terem a ver com isso. Mas se calhar também se puseram a jeito, pois decidiram ir às compras ao supermercado.
todos os dias, em muitos lugares distintos e em situações díspares, há muita gente a pôr-se a jeito: de levar uma chapada, de ter uma multa, de ouvir um responso, de apanhar uma constipação, de se ver a perder credibilidade perante os outros, etc. etc.
tudo isto,menos tirar a vida alheia.
a imbecilidade é um posto.
e o ódio é o cancro do mundo.
" o ódio, é um bêbado numa taberna,
que quanto mais bebeu, mais sede vai tendo
(...)
a uma sorte lamentável o ódio está votado:
a de nunca poder adormecer saciado."
in "As Flores do Mal", Baudelaire
domingo, 4 de janeiro de 2015
de molho
comecei o ano "de molho". Aquilo que inicialmente era uma grande dor de garganta, culminou numa gripe daquelas que dão direito a febre de 39º, a voz presa por um fio sonoro irreconhecível e o corpo rendido aos tremores e à tareia que as gripes descomunais têm para oferecer.
a parte boa tem sido dormir, como há muito tempo não o fazia.
entretanto também vi um filme, que já me tinha despertado a atenção pela temática,na altura em que saiu no cinema, mas só agora tive a oportunidade de ver.
e só vos digo que as minhas expectativas foram totalmente correspondidas.
é um filme brilhante, quer pelo tema que aborda, o lado terrífico da psique humana, quer pela forma como está realizado, quer pela excelente escolha / interpretação dos actores.
lá está, entrou directamente para o rol dos "filmes que me dão socos no estômago", pintado numa crueza que só visto.
a parte boa tem sido dormir, como há muito tempo não o fazia.
entretanto também vi um filme, que já me tinha despertado a atenção pela temática,na altura em que saiu no cinema, mas só agora tive a oportunidade de ver.
e só vos digo que as minhas expectativas foram totalmente correspondidas.
é um filme brilhante, quer pelo tema que aborda, o lado terrífico da psique humana, quer pela forma como está realizado, quer pela excelente escolha / interpretação dos actores.
lá está, entrou directamente para o rol dos "filmes que me dão socos no estômago", pintado numa crueza que só visto.
sexta-feira, 2 de janeiro de 2015
release
olá 2015 !
a agitação das festas já lá vai, e o que resta delas são os bons momentos que guardamos cá dentro.
é curioso o efeito da passagem do tempo em nós e como aquilo que foi antigamente uma espécie de "última coca- cola no deserto" , se torna em algo perfeitamente normal. É o caso, por exemplo, da noite de passagem de ano. Antigamente creio que ainda a tinha em mais conta, do que ao próprio Natal,porque era sinónimo de festa, de muitas horas extensas de festa, em que dançava tanto, ao ponto de no dia a seguir,( após as horas, também elas extensas, de sono, em que acordava a não saber a quantas andava) mal me aguentar de pé .
ah a loucura da adolescência...! esse patamar da vida tão alegórico.
agora, volvidos vinte anos, gosto e prezo tanto o meu sossego, que só de pensar em mim no meio da multidão de uma discoteca, ainda por cima numa noite de passagem de ano, faz-me tonturas.
agora, a "espécie de última coca-cola no deserto" desta altura do ano, é sem dúvida o espanto do sorriso da minha miúda, ao deparar-se com as prendas trazidas pelo pai natal e ao fazer-se crer sem margem para dúvidas, de que realmente o está a ver, de alguma forma,lá longe, através da janela, na noite de natal.
e isto que ela emana é mesmo contagiante e é de facto o que de mais precioso guardo desta quadra festiva.
o meu pai natal foi um querido e atento aos meus desejos, como tal, trouxe-me o tal gira-discos que eu já andava a namorar há um bom tempo, entre outras coisas que obviamente me deixaram feliz.
entretanto tenho andado a pensar em 2015. Nunca alimentei a utopia de que é o caderno em branco que nos muda a vida, mas sim aquilo que nele escrevemos. Há coisas que eu queria, umas tangíveis, outras não, outras quem sabe; umas dependem da sorte/destino/acaso, outras dependem inteiramente do quanto eu trabalhar para que se realizem. E não é preciso ser ano novo, para começar esse trabalho - já o iniciei há uns bons meses atrás.
Precisamente em 2014, comecei a agir de forma mais séria no que respeita a fazer o que me apaixona e me deixa feliz, deixei-me de teorias e passei à prática.
e não volto atrás, no matter what.
posto isto meus caros, quer-se é saúde e um bocado de sorte, o resto constrói-se e deixa-se fluir naturalmente, sem esmorecimentos, sem baixar os braços.
a agitação das festas já lá vai, e o que resta delas são os bons momentos que guardamos cá dentro.
é curioso o efeito da passagem do tempo em nós e como aquilo que foi antigamente uma espécie de "última coca- cola no deserto" , se torna em algo perfeitamente normal. É o caso, por exemplo, da noite de passagem de ano. Antigamente creio que ainda a tinha em mais conta, do que ao próprio Natal,porque era sinónimo de festa, de muitas horas extensas de festa, em que dançava tanto, ao ponto de no dia a seguir,( após as horas, também elas extensas, de sono, em que acordava a não saber a quantas andava) mal me aguentar de pé .
ah a loucura da adolescência...! esse patamar da vida tão alegórico.
agora, volvidos vinte anos, gosto e prezo tanto o meu sossego, que só de pensar em mim no meio da multidão de uma discoteca, ainda por cima numa noite de passagem de ano, faz-me tonturas.
agora, a "espécie de última coca-cola no deserto" desta altura do ano, é sem dúvida o espanto do sorriso da minha miúda, ao deparar-se com as prendas trazidas pelo pai natal e ao fazer-se crer sem margem para dúvidas, de que realmente o está a ver, de alguma forma,lá longe, através da janela, na noite de natal.
e isto que ela emana é mesmo contagiante e é de facto o que de mais precioso guardo desta quadra festiva.
o meu pai natal foi um querido e atento aos meus desejos, como tal, trouxe-me o tal gira-discos que eu já andava a namorar há um bom tempo, entre outras coisas que obviamente me deixaram feliz.
entretanto tenho andado a pensar em 2015. Nunca alimentei a utopia de que é o caderno em branco que nos muda a vida, mas sim aquilo que nele escrevemos. Há coisas que eu queria, umas tangíveis, outras não, outras quem sabe; umas dependem da sorte/destino/acaso, outras dependem inteiramente do quanto eu trabalhar para que se realizem. E não é preciso ser ano novo, para começar esse trabalho - já o iniciei há uns bons meses atrás.
Precisamente em 2014, comecei a agir de forma mais séria no que respeita a fazer o que me apaixona e me deixa feliz, deixei-me de teorias e passei à prática.
e não volto atrás, no matter what.
posto isto meus caros, quer-se é saúde e um bocado de sorte, o resto constrói-se e deixa-se fluir naturalmente, sem esmorecimentos, sem baixar os braços.
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