sábado, 1 de agosto de 2015

Ela



vai contra a minha índole, política e convicções, mostrar o rosto da minha filha aqui, neste mundo desenfreado da internet, com tudo aquilo que tem de bom, mas também de mau. Cabe-me protegê-la de olhos, interpretações e intenções alheias, de pessoas cuja índole, política e convicções são bastante duvidosas.
não tenho o gesto presunçoso de achar que aquilo que eu gosto, que eu tenho, que eu faço e que eu opino é a verdade suprema do universo, nem a última Coca Cola no deserto, mas no que respeita a este assunto, creio que seria tão melhor os outros pais deste mundo pensarem assim, em relação aos filhos menores que têm, já que estes estão desarmados em termos de defesas pessoais e apenas contam com a supervisão paterna, vulgo pessoas adultas e atentas aos tempos que correm.
a internet é um boom recente, tudo é invariavelmente mais exposto, mais divulgado, mais banalizado.
mas o facto é que tudo aquilo que no presente é trazido à tona, sempre existiu, noutros tempos diferentes dos tempos cibernéticos de agora.
felizmente, e já é característica intrínseca à minha pessoa, sempre fui alguém muito atento, em relação a mim e aos outros. Talvez por isso, no alto dos meus sete anos, não completei mais do que duas semanas das aulas de piano, porque havia algo na simpatia daquele professor que não me agradava. Pode ter sido exagero, sugestão ou simples antipatia minha, mas o facto é que não me agradou e ponto final. Acabou-se o piano. Os meus pais tiveram sempre de aceitar o facto de que desde tenra idade, eu soube sempre aquilo que quis, o que não quis e o momento em que decididamente tinha de parar algo que não me estaria a fazer bem.
ainda hoje sou assim e se mudar, será provavelmente numa outra vida, só.
faz-me uma tremenda confusão à membrana nevrálgica pais que, para além de postarem fotografias dos filhos na internet, de forma bastante exposta, estejam sedentos por revelarem de forma igualmente explícita, a agenda e os passos diários dos filhos.
por favor, não façam isso.
hoje alguém perguntou-me se eu já tinha pensado em agenciar a minha filha para catálogos e publicidade, porque tinha uma beleza de sonho, segundo as suas palavras.
não me roguei de humildade pouco sentida, porque à parte de ser eu a mãe e isso fazer de mim alguém tremendamente suspeito, tenho a perfeita noção do que vejo quando olho para a minha filha.
mas respondi apenas que um dia, quando ela tiver as suas próprias defesas e se assim for o seu desejo, de forma absolutamente deliberada, fará aquilo que entender.
não se trata de castrar a infância, mas sim saber viver os dias no mundo, tal qual como o mundo é.

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