quinta-feira, 9 de julho de 2015

depois


Sempre tive a tendência vertiginosa, mas arrebatadora, das entregas por inteiro.
Porque é por inteiro que tudo se deve querer na vida, já que os meios-termos podem deixar muito a desejar.
Obviamente que aliada à sensação libertadora de "tudo poder", vem sempre implícito o risco:
do erro, da queda, do fracasso. Mas isto é sempre atirado para longe, para o limiar das utopias sem nenhuma razão de ser.
Porque a vida é entrega e entrega é paixão.
Nunca se deverá pensar no pior, porque o pior, claro está, para além de ser absolutamente utópico e desfasado de uma realidade apaixonante, estará sempre catalogado para depois.
O depois é um lugar distante, soturno como os dias cinzentos do desalento e o universo não é mais do que um carnaval de instantes, que marcham vertiginosamente até à centelha abrupta dos momentos que estão por vir e que depois se cravam em nós sob a forma de mágoas penosas.
Lembro-me que na adolescência, essa dita idade do armário, a salvação de um mundo feito de instantes, estava na música, sendo ela o remédio para quase todos os males. O pior vinha sempre depois, quando a música acabava, o corpo parava, o pensamento acordava e a alma ruía.
O depois foi aquilo que alguém inventou para estragar os amores-perfeitos dos momentos agarrados sublimemente à vida.
E ela está cheia de amores mais-que-perfeitos.

Porque a vida é entrega e entrega é paixão e tudo isto se quer

por inteiro.